17 de jan. de 2012

Uma carta que não vai chegar

A lua no tarot me aponta "uma tendência de encantamento para coisas irreais". Tendência, carma ou destino, foi assim que você apareceu no meu caminho. Como tantos outros encontros e desencontros.


No tarot a lua, o lúdico. Na vida real, o sol, a praia, e também o lúdico, a diversão, o prazer associado a uma cidade que tem tudo isso, mais a malandragem. Já te vi em fotos com um chapéu branco de malandro. Mas antes dessa foto, era assim que eu lhe enxergava, quando você descia a rua da minha casa todo dia de manhã, de carro.


Na malandragem foi me ganhando. Eu lhe achava 171 (artigo sobre estelionato no código civil, não é isso), tirador de onda, mas tinha seu charme. Acabei cedendo, do tipo "porque não". E na brincadeira o tempo foi passando e eu me apegando, quando eu descobri o lado escuro da lua, sem querer parodiar o original (Pink Floyd).


O meu lado negro. Não do apego ou do ciúmes, mas do que eu era capaz de fazer por uma história sem futuro, que eu já sabia o final. Queria viver o enredo dramático de um novela que eu entrei  no 30o capítulo, sendo que meu nome nem aparecia como atriz convidada.


Me estrepei. Não me confundi, que sentimento mútuo tinha, mas ficar cara a cara com meus limites e seus excessos ou falta de, me baqueou. Não pensava a frase típica "como é que eu fui tão burra", matutava, "não consegui". Conseguir o que? Absolutamente nada a ver. Foi só uma participação especial na história de outra pessoa.


Especial sim... eu sei que foi. Pra mim, pra você, mundos completamente diferentes com vontade de conhecer outros planetas. Mas essa viagem foi curta. Seu destino, outro.


Hoje eu confirmei o que a intuição que me avisou. Você foi sim, para outro mundo, um universo paralelo, deixando a todos os que te conhecem atônitos. Estou triste, uma tristeza esquisita, que me deixa ainda mais sem vontade e sem paciência com a bobajada do cotidiano.


Me vi de novo frente a frente com a lua do tarot. Encarando o fato de que me sinto, além de triste, aliviada por não ser eu a mulher que estava do seu lado quando deve ter havido uma lenta e dolorosa despedida, meses depois que, soube, adoeceu. Senti, e vi tudo a distância. Como se, fora do enredo, acompanhasse a sua novela na televisão. Se fosse eu, não estaria consumida pelo irreal?


Ao final, só quero completar o que comecei na carta que lhe deixei há algum tempo, e que tenho certeza, você deve ter guardado bem escondido em algum lugar.


Irreal diz o tarot, e a mente, o racional.


Real foi meu sentimento, de que em algum momento dessa relação que nem sei se realmente começou, houve um encontro. Houve amor, um tipo de amor que pode não ser aquele que vai me acompanhar pra vida inteira, mas um amor pra me chacoalhar, perceber meus limites, expandir meus horizontes e me ajudar a conhecer um outro lado de mim.


Novamente, eu te digo. Obrigada, Alexandre, pelo que me ensinou.


Obrigada por me mostrar que eu sou ego, sou sangue, sou fachada, sou suor e sensações.


Obrigada por abrir meu coração pra Bahia, esse lugar me mexe tanto comigo.


Obrigada pelo encontro, mínimo, breve e torto.


Não vou mais me julgar.


Não vou me esquecer de você.

E nem da lua, e nem do sol, ambos no meu destino.