Há anos não via a minha avó, mãe de meu pai. Anos que se passaram pela janela do carro, na estrada que liga os interiores paulistas. Moro também há alguns anos no Nordeste, outra paisagem, e um estranhamento me comove. Não passou tanto tempo assim e, ao mesmo tempo, é como se eu tivesse saído daqui ha séculos. Ou nunca saí...
Minha vó é uma senhora quieta de 84 anos. Seus cabelos são lisos e brancos, cabelo de japonês, de índio. Estar com ela, minha tia, meu pai, é como estar visitando uma tribo de índios guarani ou até mesmo os pataxós lá do Extremo Sul da Bahia. Sangue caboclo misturado com japonês, provavelmente, mas minha avó não lembra dos parentes. Ou lembra, mas lá no fundo de sua alma que ela parece já não partilhar mais conosco, só consigo mesma.
Quando eu era criança, essa avó tinha longos cabelos abaixo da cintura. Costumava lavá-los no tanque da área de serviço, tamanha mão de obra para secá-los no chuveiro do banheiro. Olhava aquele trabalhão todo fascinada. Crescida e rebelde, usei cabelos curtos durante muitos anos; negando o feminino frágil que hoje, depois dos 30 anos, entendo agora que é minha fortaleza.
Deixo meus cabelos crescerem enquanto minha avó paterna os mantém curtos, porém não por vontade própria. Entre um silêncio e outro ela me olha, lacrimejada, e diz que minhas tias assim o desejaram seus cabelos, curtos, para facilitar o lavar e o secar. E olhos de cachoeira retida em represa, minha avó suspira resignada "já não somos o que queremos e alguém faz por nós", referindo-se a idade avançada.
Acabo de me lembrar do filme Benjamim Button, com Brad Pitt no papel do homem que nasce velho e a medida que o tempo avança, vai voltando a ser criança. Seremos nós, quando velhos, crianças que passam a seguir o que os outros nos dizem e fazem por nós? Ou uma fase da vida em que merecemos que pensem por nós?
Seremos velhas, minhas avós queridas ainda vivas, a vagar pelo mundo feito crianças sem força para brincar... com saudade dos velhos, velhos tempos, velhas pessoas, carregando nos olhos e no coração aquilo que nem sempre o corpo consegue expressar...
Há um pouco de melancolia expressa nesse texto, mas não é tanto um pessimismo. É mais uma nostalgia, uma volta ao passado em uma viagem de 45 minutos até a casa de minha avó paterna, onde todos os meus 30 e quase enta anos se comprimem em flashes muito diminutos e pouco nítidos. A vida passa muito rápido. E além de vivê-la bem, com saudade, respeito ao próximo, amor e ética, precisamos ter mais carinho com nossos velhos e velhas.
Pois assim os seremos, se já não o somos...
24 de dez. de 2011
21 de dez. de 2011
Calibre 38
Vencendo a letargia para escrever, um dia após o meu aniversário.
38 anos. Quase enta (quarENTA).
Não nego, rola uma crise... a crise do "ainda".
Ainda não casei. Ainda não comprei um apartamento. Ainda não me firmei na profissão. Ainda não emagreci os quilos que me incomodam. Ainda não entrei no mestrado. Ainda não consegui ficar menos estressada. Ainda não fui pra Índia.
Ainda não fiz metade das coisas que pretendo e desejo fazer...
Ainda não descobri quais coisas realmente quero e quais me impuseram a querer...
Aí me lembro de histórias que tenho lido ultimamente.
De pessoas que se realizaram após os 40 anos.
De um iogue, com mais de 80, flexível como uma vara inquebrável de borracha.
De uma escritora que adoro, Isabel Allende, que começou a escrever de forma mais séria depois dos ENTA e além de rica foi traduzida no mundo inteiro.
De mulheres que foram mães muito tarde.
De mulheres que se assumiram sem a mínima vocação para serem mães, e que nem por isso deixaram de ficar bem.
De outras e de outros que se esforçaram para vencer o medo e simplesmente aprenderam a ler e a escrever já grisalhos. E outros tantos que, nesses tempos de internet, aprenderam a mexer no computador e a conversar com os netos pelo MSN.
É, meus amigos, sinto que os ENTA estão chegando e aconchegando meu coração.
Ainda sou uma menina, tanto a descobrir, a entender. Menina de mente e corpo (me dão 35 anos, no máximo).
Aí me acalmo, e lembro que tem um vidão, se Deus quiser pela frente.
De posse de meu calibre 38, declaro, "armada e perigosa", rs. Armada de esperança de que as coisas sempre vão melhorar (embora às vezes a gente ache que que piore).
Que idade é como chifre - coisa que colocam na sua cabeça (além do RG)...
38 anos. Quase enta (quarENTA).
Não nego, rola uma crise... a crise do "ainda".
Ainda não casei. Ainda não comprei um apartamento. Ainda não me firmei na profissão. Ainda não emagreci os quilos que me incomodam. Ainda não entrei no mestrado. Ainda não consegui ficar menos estressada. Ainda não fui pra Índia.
Ainda não fiz metade das coisas que pretendo e desejo fazer...
Ainda não descobri quais coisas realmente quero e quais me impuseram a querer...
Aí me lembro de histórias que tenho lido ultimamente.
De pessoas que se realizaram após os 40 anos.
De um iogue, com mais de 80, flexível como uma vara inquebrável de borracha.
De uma escritora que adoro, Isabel Allende, que começou a escrever de forma mais séria depois dos ENTA e além de rica foi traduzida no mundo inteiro.
De mulheres que foram mães muito tarde.
De mulheres que se assumiram sem a mínima vocação para serem mães, e que nem por isso deixaram de ficar bem.
De outras e de outros que se esforçaram para vencer o medo e simplesmente aprenderam a ler e a escrever já grisalhos. E outros tantos que, nesses tempos de internet, aprenderam a mexer no computador e a conversar com os netos pelo MSN.
É, meus amigos, sinto que os ENTA estão chegando e aconchegando meu coração.
Ainda sou uma menina, tanto a descobrir, a entender. Menina de mente e corpo (me dão 35 anos, no máximo).
Aí me acalmo, e lembro que tem um vidão, se Deus quiser pela frente.
De posse de meu calibre 38, declaro, "armada e perigosa", rs. Armada de esperança de que as coisas sempre vão melhorar (embora às vezes a gente ache que que piore).
Que idade é como chifre - coisa que colocam na sua cabeça (além do RG)...
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