12 de abr. de 2012

Acorde a sua Branca de Neve

Despretensiosamente fui assistir ao filme Espelho, Espelho Meu, com Julia Roberts e uma estreante chamada  Lily Collins, a cara da Audrey Hepburn. E sim, estava um pouco de má vontade, em ver uma mulher da minha gerada no papel de bruxa, e uma princesinha de 18 anos no papel de mocinha...

Cai do cavalo. Nesses tempos em que ando prestando atenção a todos os meus sonhos numa tentativa de auto-análise, o filme traz muitos símbolos e uma história contada de maneira um pouco diferente, sem pesar tanto a mão na receita boa mocinha/má vilã. Tem vários lados, os personagens, incluindo o príncipe, que é galã e se acha, mas cheio de defeitosinhos - inclusive o de se achar o máximo, ser bastante desajeitado, preconceituoso - chama os sete anões de nanicos pra baixo - e confessar que se decepcionou com a princesinha.

A bruxa rende os momentos mais interessantes da história. Quando conversa com o espelho, literalmente mergulha nele e segue em direção a uma casinha onde está... ela mesma! Seu alter-ego, com os dois lados da consciência conversando entre si, o lado negro que faz as maldades, sempre lembrando das consequências como quem diz: "pode fazer o que está pensando, porém..."

Já Branca de Neve trouxe uma metáfora tão forte quanto a do espelho. A menina vive 18 anos trancafiada em um castelo, sendo bastante maltratada pela Rainha, que o tempo todo diz o quanto ela é bobinha, indefesa, fraca. A menina acredita. Uma hora ela sai do castelo e vê as barbaridades que a bruxa cometeu, e se rebela. A rainha manda um lacaio matar a mocinha, esta foge para a noite escura, e encontra os setes anões e...

Aí o filme esquenta. Os sete anões são ladrões. Começa a se tocar que não adianta ficar só de mocinha, e precisa trabalhar sua esperteza, sua malemolência. Interessante a metáfora da esperteza, do equilíbrio entre a docilidade (natural dela) com essa esperteza, pra conquistar os anões. Não conquista com força, mas pela força feminna...

Ela entra pro bando dos anões, numa ética digamos, maleável, pra aprontar contra a própria rainha. Chega a lutar com o príncipe, de igual pra igual, embora já a fim do cara... sequestra o mocinho que quase casou com a Rainha - detalhe, este príncipe bebeu uma poção de amor "cachorrinho" e fica um porre grudento e choramingão, apaixonado pela rainha. A mocinha não fica na dela. Toma a iniciativa e beija o príncipe-cão-capacho e quem acorda, do feitiço, é ele!

Pra terminar a saga da menina que se assumiu mulher, ela ainda quebra um feitiço da rainha contra seu pai, o rei, que virou uma fera da floresta. Depois de anos, seu pai volta a forma humana e fica abismado com a mudança física da menina, que ele não via desde que ela era criança. Ops, aí vai mais uma: quantos pais (inclusive o meu), adormecem num dia a dia embotado pelas obrigações e pelo piloto automático, quando de repente vê sua filha e não acredita o quanto ela cresceu, e o que ela se tornou...

E a maçã nessa história, onde fica? Vou resistir e não contarei o final do filme. Só lhe digo: a Branca de Neve já não é mais a mesma, não sai aceitando qualquer coisa de qualquer um (ou uma) que se diz bonzinho, ou vítima.

E você? Tá na sua fase de Branca de Neve, de bruxa? Um pouco de cada? Eu estou e sou assim, me descobrindo princesa às vezes, precisando polir também minha esperteza pra me ajustar a sabedoria de Rainha. Ou imperatriz, como aparece no tarot. Quanto ao príncipe, esse deve estar circulando por aí, tal qual o do filme, decepcionado com os defeitos femininos ou se fazendo de cachorrinho para bruxas vingativas e que só pensam na aparência.

A hora que ele acordar e ver que de mocinha e de bruxa todas as mulheres devem ter um pouco, ele vai se encontrar com ela. Ou comigo, quem sabe!

9 de abr. de 2012

Avançar ou recuar, razão ou emoção

Um mês sem escrever mas elocubrando sobre a forma como nos expressamos e achamos que o outro está sentindo...

Está acontecendo um fato interessante com uma querida amiga minha que tem me feito pensar bastante e chegar a conclusão nenhuma (o que me leva a pensar se chegar a conclusões é realmente necessário, rs). Ela está paquerando (ou acha que está) um figura que conheceu e o qual imediatamente sentiu grande afinidade de idéias e pensamentos, sem pensar inicialmente naquilo que a maioria pensa de cara - se rolou ou não uma "pegada". Aquela química, que te dá vontade de imediatamente pular no pescoço do individuo e abrir as pernas sem piscar.

Pois bem. Depois de alguns papos a moça em questão começou a olhar o moço com outros olhos, sempre pensando "será?". A curiosidade é uma marca feminina e a distração também... enfim, os dois têm saído, papeado, adoram a presença um do outro e parecem muito felizes em trocar uma idéia e... e só!

Está mais ou menos grilada, minha amiga. Quer entender qual é. Rola? Não rola? Tomaria ela a iniciativa de partir pro ataque? O cara é tranquilo, amigo de todos (e todas), trata com carinho mas não abre brecha... ou ela não percebe. Nesse faz-não-faz, algumas amigas também elocubram. "É gay", diz uma. "Ela tá muito devagar", diz outra". "Xi, vão acabar perdendo o timing, o foco".

Será?

Que horas/que ponto uma amizade masculina precisa ter intenção de prosseguir e virar uma pegada/relação/amizade colorida?

Qual é o limiar das relações? Como é que se percebe o outro, suas intenções e vontade, respeitando-as para avançar ou recuar?

São questões que fazem parte de qualquer DR (leia-se: discutir as relações). Porém... cada caso é um caso, não dá pra julgar, não dá pra saber sem esperar pra ver o que rola, ou não. Precisa rolar, sempre? Precisa de um empurrãozinho, um jogo de sedução? Ou precisa de tranquilidade?

Minha amiga não sabe. Mas ela e todas nós sabemos que excesso de regras e pré-conceitos sempre dão e deram merda. Esperar pra ver... parece a única solução até o momento. No tarot a carta dos Enamorados alerta: é preciso equilibrar o racional e o emocional pra não misturar desejo, necessidade e vontade. E descobrir se os três andam juntos numa relação que está começando e ainda não se sabe qual é, depende um pouco do racional.

Se não andam juntos, ao menos se mantém uma amizade... avançar ou recuar depende desse equilíbrio!

8 de mar. de 2012

Dieta mental: pra pendurar na geladeira

Ainda vou comentar aqui o achado lindo de minha querida Flávia Rossi, o blog Quero Correr com Os Lobos, realmente um achado entre as mulheres que escrevem (tenho visto muita porcaria de literatura de mulherzinha nas livrarias, verdadeiros lixos que só servem pra gastar papel). Por enquanto posto um trecho de um post que achei o máximo e vou pendurar na minha geladeira:


O que é proibido na Dieta Mental:

- consumir qualquer tipo de pensamento negativo
- qualquer tentativa de construir um auto-boicote mental
- remoer qualquer remorso ou rancor do passado
- focar nos problemas
- acordar pensando que a última coisa que eu quero fazer é levantar da cama
- fofocar sobre a vida alheia
- desejar mal para alguém (qualquer pessoa, por mais fdp que ela seja)
- pensar que não serei capaz de qualquer coisa

O que é obrigatório na Dieta Mental:

- consumir pensamentos agradáveis
- construir imagens mentais que tragam esperança
- projetar meus amores e carinhos para as pessoas ao meu redor
- focar nas soluções
- acordar de manhã esperando por um dia bacana
- escutar mais do que falar
- ajudar alguém que precise de ajuda
- pensar em novas possibilidades e caminhos

7 de fev. de 2012

Da velhice e do corpo

Minha mãe passa férias em casa. Ultimamente só tenho a visto uma vez por ano (no Natal), e a passagem do tempo não me permite enxergar algumas coisas com clareza. Como acontece com um bebê que acaba de nascer e você o vê somente daqui sete, oito meses e se pergunta: será a mesma criança? Ou a trocaram na última visita ao pediatra?

Ela ainda não tem 70 anos. Mas tem a saúde um pouco frágil, e a memória, idem. Sofre de dor nas costas. Demora a percorrer o caminho do apartamento até a praia, e cansa na volta. E a memória...

Ele esquece coisas pela casa. Não lembra onde guardou as pilhas recarregáveis antes de dormir. A panela em cima do fogão. A máquina fotográfica em um canto da prateleira. Eu, que moro sozinha, fico brava achando que ela mexe em tudo de propósito. Ela se magoa, e mistura sua mágoa com seu próprio espanto. Sabe que está esquecida, por causa de remédios e nem só pela idade, mas se assusta.

Eu me assusto também. Que a ficha cai de uma vez no orelhão (quem é do tempo do orelhão sabe do que estou falando), faz um grande barulho e de repente, já caiu e você consegue completar a ligação. É assim com o que se chama de velhice? Não se percebe direito e, quando se vê, num estalo ela caiu, ou você caiu nela?

Minha mãe lembra de um apresentador de televisão que mostrou uma velhinha abordada por um assaltante. A velhinha... tinha 62 anos. Minha mãe, 61. Você não é velha, digo a ela, velha é minha vó, que passou dos 80 e tantos. Passou do prazo de validade ou esqueceu, já está no bônus, é algo assim que minha mãe diz, com ironia. A mágoa se esconde um pouco no sarcasmo, mas pelo menos podemos rir um pouco após o susto.

Quem disse que envelhecer é maravilhoso? Envelhecer é FODA. É assustador. É lembrar que não somos imortais, apesar de vivermos muitas vezes no piloto automático. A qualquer momento a ficha pode cair no orelhão da vida, direto pra surpresa dos que ficam a olhar o seu caixão no velório. Ui... exagerei? Mas é isso mesmo. Por mais que tenhamos religião e acreditamos no pós vida, na reencarnação e no paraíso, a verdade é que quando alguém morre é como a tal da ficha, abrupta, estalando dentro do aparelho de telefonia. E encarar essa verdade nos assombra.

Pelo menos, que se envelheça com dignidade e respeito. Horrível, chamar as velhas de velhas. Não continuamos mulheres? Tive vontade de subir no pescoço do tal apresentador, que também deve ter passado da casa dos 50, e "está se achando"... esqueço que é só ver alguém com cabelos brancos e encurvada e penso a mesma coisa. Velhinhas...

Eu vou tentar. Ter mais paciência, andar mais devagar, não me importar com as coisas que desparecem no apartamento porque minha mãe deixou em algum lugar. Tentar ajudá-la, pensar na saúde, exercícios pra memória e pra ajudar o corpo a se adaptar a essa fase. É só um corpo, melhor se acompanhar a mente.

Agora é ela. Um dia serei eu, você, todos nós.

17 de jan. de 2012

Uma carta que não vai chegar

A lua no tarot me aponta "uma tendência de encantamento para coisas irreais". Tendência, carma ou destino, foi assim que você apareceu no meu caminho. Como tantos outros encontros e desencontros.


No tarot a lua, o lúdico. Na vida real, o sol, a praia, e também o lúdico, a diversão, o prazer associado a uma cidade que tem tudo isso, mais a malandragem. Já te vi em fotos com um chapéu branco de malandro. Mas antes dessa foto, era assim que eu lhe enxergava, quando você descia a rua da minha casa todo dia de manhã, de carro.


Na malandragem foi me ganhando. Eu lhe achava 171 (artigo sobre estelionato no código civil, não é isso), tirador de onda, mas tinha seu charme. Acabei cedendo, do tipo "porque não". E na brincadeira o tempo foi passando e eu me apegando, quando eu descobri o lado escuro da lua, sem querer parodiar o original (Pink Floyd).


O meu lado negro. Não do apego ou do ciúmes, mas do que eu era capaz de fazer por uma história sem futuro, que eu já sabia o final. Queria viver o enredo dramático de um novela que eu entrei  no 30o capítulo, sendo que meu nome nem aparecia como atriz convidada.


Me estrepei. Não me confundi, que sentimento mútuo tinha, mas ficar cara a cara com meus limites e seus excessos ou falta de, me baqueou. Não pensava a frase típica "como é que eu fui tão burra", matutava, "não consegui". Conseguir o que? Absolutamente nada a ver. Foi só uma participação especial na história de outra pessoa.


Especial sim... eu sei que foi. Pra mim, pra você, mundos completamente diferentes com vontade de conhecer outros planetas. Mas essa viagem foi curta. Seu destino, outro.


Hoje eu confirmei o que a intuição que me avisou. Você foi sim, para outro mundo, um universo paralelo, deixando a todos os que te conhecem atônitos. Estou triste, uma tristeza esquisita, que me deixa ainda mais sem vontade e sem paciência com a bobajada do cotidiano.


Me vi de novo frente a frente com a lua do tarot. Encarando o fato de que me sinto, além de triste, aliviada por não ser eu a mulher que estava do seu lado quando deve ter havido uma lenta e dolorosa despedida, meses depois que, soube, adoeceu. Senti, e vi tudo a distância. Como se, fora do enredo, acompanhasse a sua novela na televisão. Se fosse eu, não estaria consumida pelo irreal?


Ao final, só quero completar o que comecei na carta que lhe deixei há algum tempo, e que tenho certeza, você deve ter guardado bem escondido em algum lugar.


Irreal diz o tarot, e a mente, o racional.


Real foi meu sentimento, de que em algum momento dessa relação que nem sei se realmente começou, houve um encontro. Houve amor, um tipo de amor que pode não ser aquele que vai me acompanhar pra vida inteira, mas um amor pra me chacoalhar, perceber meus limites, expandir meus horizontes e me ajudar a conhecer um outro lado de mim.


Novamente, eu te digo. Obrigada, Alexandre, pelo que me ensinou.


Obrigada por me mostrar que eu sou ego, sou sangue, sou fachada, sou suor e sensações.


Obrigada por abrir meu coração pra Bahia, esse lugar me mexe tanto comigo.


Obrigada pelo encontro, mínimo, breve e torto.


Não vou mais me julgar.


Não vou me esquecer de você.

E nem da lua, e nem do sol, ambos no meu destino.