Despretensiosamente fui assistir ao filme Espelho, Espelho Meu, com Julia Roberts e uma estreante chamada Lily Collins, a cara da Audrey Hepburn. E sim, estava um pouco de má vontade, em ver uma mulher da minha gerada no papel de bruxa, e uma princesinha de 18 anos no papel de mocinha...
Cai do cavalo. Nesses tempos em que ando prestando atenção a todos os meus sonhos numa tentativa de auto-análise, o filme traz muitos símbolos e uma história contada de maneira um pouco diferente, sem pesar tanto a mão na receita boa mocinha/má vilã. Tem vários lados, os personagens, incluindo o príncipe, que é galã e se acha, mas cheio de defeitosinhos - inclusive o de se achar o máximo, ser bastante desajeitado, preconceituoso - chama os sete anões de nanicos pra baixo - e confessar que se decepcionou com a princesinha.
A bruxa rende os momentos mais interessantes da história. Quando conversa com o espelho, literalmente mergulha nele e segue em direção a uma casinha onde está... ela mesma! Seu alter-ego, com os dois lados da consciência conversando entre si, o lado negro que faz as maldades, sempre lembrando das consequências como quem diz: "pode fazer o que está pensando, porém..."
Já Branca de Neve trouxe uma metáfora tão forte quanto a do espelho. A menina vive 18 anos trancafiada em um castelo, sendo bastante maltratada pela Rainha, que o tempo todo diz o quanto ela é bobinha, indefesa, fraca. A menina acredita. Uma hora ela sai do castelo e vê as barbaridades que a bruxa cometeu, e se rebela. A rainha manda um lacaio matar a mocinha, esta foge para a noite escura, e encontra os setes anões e...
Aí o filme esquenta. Os sete anões são ladrões. Começa a se tocar que não adianta ficar só de mocinha, e precisa trabalhar sua esperteza, sua malemolência. Interessante a metáfora da esperteza, do equilíbrio entre a docilidade (natural dela) com essa esperteza, pra conquistar os anões. Não conquista com força, mas pela força feminna...
Ela entra pro bando dos anões, numa ética digamos, maleável, pra aprontar contra a própria rainha. Chega a lutar com o príncipe, de igual pra igual, embora já a fim do cara... sequestra o mocinho que quase casou com a Rainha - detalhe, este príncipe bebeu uma poção de amor "cachorrinho" e fica um porre grudento e choramingão, apaixonado pela rainha. A mocinha não fica na dela. Toma a iniciativa e beija o príncipe-cão-capacho e quem acorda, do feitiço, é ele!
Pra terminar a saga da menina que se assumiu mulher, ela ainda quebra um feitiço da rainha contra seu pai, o rei, que virou uma fera da floresta. Depois de anos, seu pai volta a forma humana e fica abismado com a mudança física da menina, que ele não via desde que ela era criança. Ops, aí vai mais uma: quantos pais (inclusive o meu), adormecem num dia a dia embotado pelas obrigações e pelo piloto automático, quando de repente vê sua filha e não acredita o quanto ela cresceu, e o que ela se tornou...
E a maçã nessa história, onde fica? Vou resistir e não contarei o final do filme. Só lhe digo: a Branca de Neve já não é mais a mesma, não sai aceitando qualquer coisa de qualquer um (ou uma) que se diz bonzinho, ou vítima.
E você? Tá na sua fase de Branca de Neve, de bruxa? Um pouco de cada? Eu estou e sou assim, me descobrindo princesa às vezes, precisando polir também minha esperteza pra me ajustar a sabedoria de Rainha. Ou imperatriz, como aparece no tarot. Quanto ao príncipe, esse deve estar circulando por aí, tal qual o do filme, decepcionado com os defeitos femininos ou se fazendo de cachorrinho para bruxas vingativas e que só pensam na aparência.
A hora que ele acordar e ver que de mocinha e de bruxa todas as mulheres devem ter um pouco, ele vai se encontrar com ela. Ou comigo, quem sabe!
Nenhum comentário:
Postar um comentário